
quarta-feira, 18 de maio de 2011
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Rio de Janeiro,
minha alma chora, e a de todos n�s brasileiros, ao imaginar o medo e a ang�stia - incomensur�veis - a corroer o cora��o dos cariocas nesses dias.
Ao corroer o cora��o de todos n�s cariocas - porque sim, se somos brasileiros, somos tamb�m, para sempre, cariocas. S� entendemos o Brasil quando come�amos, ou terminamos, no Rio, sua mais perfeita tradu��o e s�ntese.
Por isso hoje choro, de corpo e alma. Vejo ve�culos incendiados em lugares por onde vivi, onde passava todo dia, ou toda semana, quando morava l�: a duas quadras de onde morei em Laranjeiras, no buraco entre os t�neis dos irm�os Rebou�as, na Cidade (que carioca n�o fala Centro), pior ainda na Penha, onde trabalhei tantos anos, no Get�lio Vargas e no M�rio Kr�eff.
(N�o preciso imaginar o desespero dos colegas m�dicos: vez por outra eu ou minha esposa fic�vamos retidos at� o dia seguinte nos hospitais).
Imediatamente pensei em quem estaria de plant�o por l�, amigos meus. Pensei nos meninos do morro que cuidavam dos carros, na ladeira do Getuli�o, na m�e que se desesperou ao ver o filho baleado, mas est�vel, aguardando cirurgia. Lembrei do tamb�m amigo Dom Rafael, ali na Igreja da Penha; seria que estar� l�, em sua resid�ncia, retido tamb�m o bom Bispo? E meus filhos, na Zona Sul?
Que a proximidade do alto o ilumine, e a tantos outros, para que possam pedir aos C�us por todos n�s, os que l� estamos e os que aqui de foram, assistem, apavorados, ao "oriente m�dio" brasileiro.
"Imagens que eu guardo na mem�ria", diria a poeta.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
A Porn Food e o Futuro da Televis�o (espelho)
A Porn Food e o Futuro da Televis�o | para todos |
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Porn Food OU O Futuro da Televis�o
domingo, 18 de abril de 2010
A arte de Jacobus van Wilpe
sexta-feira, 19 de março de 2010
N�s n�o amamos Brigitte Bradot
Cresci ouvindo falar daquela mulher lind�ssima, lour�ssima, talentos�ssima, t�o famosa quanto os Beatles ou Marilyn Monroe, que encantara o mundo por mais que uma gera��o e se retirara no auge, tornando-se uma reclusa esquisitona que propaga(va) aos quatro ventos preferir os animais aos seres humanos.
"Como � que pode, largar tudo para viver uma vida assim, quase mon�stica, entregando-se a uma loucura dessas, gatinhos e c�ezinhos, cavalos e beb�s-foca... Muito louca, isso sim...", diziam meus pais e todos aqueles que antes a veneravam.
Depois conheci B�zios, no estado do Rio, e toda a mitologia reunida ao redor e sobre sua visita inesquec�vel ao Brasil em 1965, da Rua das Pedras �s praias (n�o mais, h� tempos) quase virgens.
Mas foi s� bem mais tarde, nas madrugadas do extinto Telecine Classic, que pude apreciar mais a fundo sua beleza loura, sua intensidade e seu talento. Nem parecia que ela permanecia viva, enclausurada na velha casa que escondeu e escancarou a um s� tempo, ao mundo e a quem interessasse, sua lenta degenera��o em decrepitude. (Re) Descobri BB viva, ao assistir um punhado de filmes e descobrir que sentia por ela o mesmo tes�o de f� que me une indelevelmente a umas poucas outras estrelas como Liz Taylor e Audrey Hepburn - que envelheceram de forma t�o dessemelhante.
No que chovo no molhado, uma vez mais: estrelas n�o morrem, ainda que tentem faz�-lo em vida, com suas opini�es estridentes e idiossincrasias pouco compreendidas, e assim renascem a cada gesto, os de estreia tanto quanto os longos feneceres, como se suas luzes astrais teimassem em brilhar vindas l� de cima, para descer lenta e calmamente � Terra ao longo dos s�culos.
Por isso reencontr�-la agora, meio de surpresa, atrav�s do document�rio de Benjamin Roussel "Brigitte criou Bardot", de 2007, foi t�o impactante. V�-la defender seus pontos de vista com clareza, intelig�ncia e verve, vestida do corpo sovado pela velhice que quase a torna mais uma vez bonita, em seu (j� n�o t�o) novo papel de anci�, chega a comover. Sua luta a colocou � frente de seu tempo, antecipando tend�ncias da moda como o abandono (parcial) do uso de peles naturais pelos avatares da moda, pressagiando temas marcantes do fimde s�culo como o ambientalismo, instigando desde h� quase quarenta anos a discuss�o t�o moderna a respeito da crueldade de abatedouros e que tais.
"O ser humano � um horror, o que n�s fazemos..."; "sinto-me mais � vontade entre os animais que entre os seres humanos"; "fiz o que fiz para tentar sobreviver em um mundo que me � hostil" s�o algumas das frases (feitas) pela atriz ao longo de uma hora de entrevistas e memorabilia, pela primeira vez -pelo menos para mim - colocadas em perspectiva,dentro de um contexto que se aproxima do que podemos imaginar seja a vis�o dela, com respeito e sem bl�-bl�-bl�.
La Bardot vive, aninhada no desejo - e mais uma vez digo "quase" - inconfess�vel que sua imagem adolescente provoca em n�s nos velhos filmes de sua �poca, e - repito, pelo menos para mim - na compreens�o recent�ssima da import�ncia de sua trajet�ria.
O mundo n�o a merece, e na cabe�a ecoa Gaisbourg, com a vers�o (original) que contrap�e t�o apropriadamente ao "Je t'aime" (te amo), o "moi non plus" (nem eu).
sábado, 20 de junho de 2009
A Rua da Revolução e o ocaso dos sonhos (Revolutionary Road, Richard Yates, 1961) | for everyone |
Mas não, não vi o filme. Apesar de ser fã de primeira hora da já mitológica Kate Winslet (atriz talhada para grandes papéis, como esta April Wheeler), e de ter aplaudido de joelhos a escolha de DiCaprio para o papel do esposo Frank, ainda não tive a oportunidade de ver o filme. E acho que vou demorar a querer ver, ainda zonzo do embate intelectual a que Mr. Yates, ghostwriter de Bob Kennedy, nos presenteia em RR. Quem viu (o filme) diz que fica aquém de “American Beauty”, e a léguas – não anos-luz - do caleidoscópio de ideias apresentado no romance. Eu disse léguas. Com atores como Leo e Kate, vale uma olhada. Mas se puder leia o livro. Leia o livro primeiro. Assim como há filmes in natura que, se precedidos da leitura do livro que os inspirou, pareceriam menores do que realmente são, há livros tão magistrais que qualquer interferência na memória pode bastar para macular uma experiência em tudo sobrenatural. Então falemos do livro, por ora, o que já é assunto que basta.
E este acerta em cheio, de cara, com um título que só poderia ser mais cru e direto se portasse número da residência, telefone ou os dizeres “The Wheelers”. A tal Rua da Revolução define bem espaço e lugar, onde o desejo de significância faz o casal – culto e relativamente inteligente e letrado, ainda que ainda lhes falte estofo moral ou verdadeira fineza - residente na única casa sui generis de toda a região, lute para permanecer intelectualmente vivo e pessoalmente motivado perante a degradação social que os cerca, pintando um painel perfeitamente apropriado para uma crônica dos subúrbios das grandes cidade americanas nos dourados anos cinquenta.
O sucesso de Yates, escritor de recursos técnicos aparentemente ilimitados, deve-se em grande parte ao sucesso da obra, que difundiu-se lenta e consistentemente ao longo das últimas cinco décadas. Lido hoje, com o cérebro embebido por anos de exposição a clichês dos anos 50 - década eternamente a ser revista nos clássicos desenhos animados, na música e na moda - “Revolutionary Road” sintetiza tal época como talvez nenhuma outra obra de arte no período - e tanto quanto o rock'n'roll e a minissaia, as tiaras e os topetes e a gomalina (e o cheiro de estofamento de couro, perfume e saliva no banco de trás dos carrões rabos-de-peixe.,,) E o faz sem precisar apelar a qualquer lugar comum, quase sem fazer referẽncia à revolução nos costumes, sem elevar seus olhos acima de horizontes previsíveis à vidinha suburbana do casal de protagonistas, cuja juventude teima em (começar a) ficar para trás.
“Revolutionary Road” é prosa elaborada, endereçada a adultos experientes. Incisiva e certeira, por vezes sua voz é cruel: revela suas personagens com rapidez e violência, como quem descasca, arranca ou rebenta. Ao romance nada falta, visto que as tramas, emaranhadas, todas se fecham; nada sobra, visto que é justamente na secura e na economia que reside sua força.
À medida que avança para o final, Yates vai progressivamente asfixiando o leitor, fazendo-o partilhar da tragédia anunciada dos Wheeler e sofrer impotente ao vê-los transformar sonhos em mágoa e desesperança. Torce-se por eles porque é assim que aprendemos a reagir às inteligências do roteiro, é claro, e porque o papo é bom, obviamente, mas em primeiro lugar porque são humanos, muitíssimo humanos, e espelham a cada minuto outra face de nós.
Herdeiro de características fitzgeraldianas, Yates consegue (ele próprio ainda na casa dos trinta anos quando escreveu este livro) unir ritmo e verve, sensibilidade e musicalidade aliados a uma perfeita construção de roteiro e personagens – e brilha com o mesmo desvelo comedido, perfeccionista e espontâneo dos contos tardios de Scott. Mestre no uso da técnica de contrapor pontos de vista, o narrador brinca com a dupla premissa de “estar” ou ”não estar lá”, aproveitando-se da possibilidade de observar cada vaso e seu conteúdo, aproximando-se do ideal utópico do criador-deus, onipresente e onisciente (porém discreto e anedônico).
Aliar concisão e leveza ao explorar uma história dramática surpreendem o leitor, que até espera, mas nunca chega a ver, o narrador escorregar nas tintas. Impressionado pela ficção de altíssima qualidade - pinceladas rápidas e certeiras que jamais resvalam para a vulgaridade – o leitor logo vê que Richard Yates se distancia de “contemporâneos” como Nelson Archer e toda a geração beat, Salinger ou Cheever (com quem é frequentemente comparado) por um apuro formal elaborado que é só seu.
“Mesmo bêbados, há que se manter uma certa compostura”, disse um dia o Francis Scott – ou coisa que o valha: lição cumprida à risca na magnífica cena do desabafo de Frank à esposa e a um casal de amigos, transformado em palavrório vazio e ininteligível no imediato instante em que é proferido, lembrando-nos que a verdade nem sempre é agradável de se escutar.
Enfim, um livro para ler, guardar e reler. Que todo casal dever ler, todo verdadeiro amante da literatura guardar no coração, e qualquer metido a literato reler.