sábado, 20 de junho de 2009

A Rua da Revolução e o ocaso dos sonhos (Revolutionary Road, Richard Yates, 1961)Apr 18, '09 8:28 AM
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Foi Apenas Um Sonho” é o título dado no Brasil ao “Revolutionary Road” (RR) de Sam Mendes, filme homônimo ao romance original de Richard Yates (1961), que chegou no mês passado às livrarias brasileiras em primorosa tradução. E se o péssimo costume latinoamericano de reinterpretar o título de filmes estrangeiros no mais das vezes põe por terra sutilezas de toda sorte, desta feita até que o sentido “em português” não faz feio perante o título original.


Mas não, não vi o filme. Apesar de ser fã de primeira hora da já mitológica Kate Winslet (atriz talhada para grandes papéis, como esta April Wheeler), e de ter aplaudido de joelhos a escolha de DiCaprio para o papel do esposo Frank, ainda não tive a oportunidade de ver o filme. E acho que vou demorar a querer ver, ainda zonzo do embate intelectual a que Mr. Yates, ghostwriter de Bob Kennedy, nos presenteia em RR. Quem viu (o filme) diz que fica aquém de “American Beauty”, e a léguas – não anos-luz - do caleidoscópio de ideias apresentado no romance. Eu disse léguas. Com atores como Leo e Kate, vale uma olhada. Mas se puder leia o livro. Leia o livro primeiro. Assim como há filmes in natura que, se precedidos da leitura do livro que os inspirou, pareceriam menores do que realmente são, há livros tão magistrais que qualquer interferência na memória pode bastar para macular uma experiência em tudo sobrenatural. Então falemos do livro, por ora, o que já é assunto que basta.


E este acerta em cheio, de cara, com um título que só poderia ser mais cru e direto se portasse número da residência, telefone ou os dizeres “The Wheelers”. A tal Rua da Revolução define bem espaço e lugar, onde o desejo de significância faz o casal – culto e relativamente inteligente e letrado, ainda que ainda lhes falte estofo moral ou verdadeira fineza - residente na única casa sui generis de toda a região, lute para permanecer intelectualmente vivo e pessoalmente motivado perante a degradação social que os cerca, pintando um painel perfeitamente apropriado para uma crônica dos subúrbios das grandes cidade americanas nos dourados anos cinquenta.


O sucesso de Yates, escritor de recursos técnicos aparentemente ilimitados, deve-se em grande parte ao sucesso da obra, que difundiu-se lenta e consistentemente ao longo das últimas cinco décadas. Lido hoje, com o cérebro embebido por anos de exposição a clichês dos anos 50 - década eternamente a ser revista nos clássicos desenhos animados, na música e na moda - “Revolutionary Road” sintetiza tal época como talvez nenhuma outra obra de arte no período - e tanto quanto o rock'n'roll e a minissaia, as tiaras e os topetes e a gomalina (e o cheiro de estofamento de couro, perfume e saliva no banco de trás dos carrões rabos-de-peixe.,,) E o faz sem precisar apelar a qualquer lugar comum, quase sem fazer referẽncia à revolução nos costumes, sem elevar seus olhos acima de horizontes previsíveis à vidinha suburbana do casal de protagonistas, cuja juventude teima em (começar a) ficar para trás.


Revolutionary Road” é prosa elaborada, endereçada a adultos experientes. Incisiva e certeira, por vezes sua voz é cruel: revela suas personagens com rapidez e violência, como quem descasca, arranca ou rebenta. Ao romance nada falta, visto que as tramas, emaranhadas, todas se fecham; nada sobra, visto que é justamente na secura e na economia que reside sua força.


À medida que avança para o final, Yates vai progressivamente asfixiando o leitor, fazendo-o partilhar da tragédia anunciada dos Wheeler e sofrer impotente ao vê-los transformar sonhos em mágoa e desesperança. Torce-se por eles porque é assim que aprendemos a reagir às inteligências do roteiro, é claro, e porque o papo é bom, obviamente, mas em primeiro lugar porque são humanos, muitíssimo humanos, e espelham a cada minuto outra face de nós.


Herdeiro de características fitzgeraldianas, Yates consegue (ele próprio ainda na casa dos trinta anos quando escreveu este livro) unir ritmo e verve, sensibilidade e musicalidade aliados a uma perfeita construção de roteiro e personagens – e brilha com o mesmo desvelo comedido, perfeccionista e espontâneo dos contos tardios de Scott. Mestre no uso da técnica de contrapor pontos de vista, o narrador brinca com a dupla premissa de “estar” ou ”não estar lá”, aproveitando-se da possibilidade de observar cada vaso e seu conteúdo, aproximando-se do ideal utópico do criador-deus, onipresente e onisciente (porém discreto e anedônico).


Aliar concisão e leveza ao explorar uma história dramática surpreendem o leitor, que até espera, mas nunca chega a ver, o narrador escorregar nas tintas. Impressionado pela ficção de altíssima qualidade - pinceladas rápidas e certeiras que jamais resvalam para a vulgaridade – o leitor logo vê que Richard Yates se distancia de “contemporâneos” como Nelson Archer e toda a geração beat, Salinger ou Cheever (com quem é frequentemente comparado) por um apuro formal elaborado que é só seu.


Mesmo bêbados, há que se manter uma certa compostura”, disse um dia o Francis Scott – ou coisa que o valha: lição cumprida à risca na magnífica cena do desabafo de Frank à esposa e a um casal de amigos, transformado em palavrório vazio e ininteligível no imediato instante em que é proferido, lembrando-nos que a verdade nem sempre é agradável de se escutar.


Enfim, um livro para ler, guardar e reler. Que todo casal dever ler, todo verdadeiro amante da literatura guardar no coração, e qualquer metido a literato reler.


ReviewReviewReviewReviewReview"Revolutionary Road" / "Foi Apenas Um Sonho", USA, 2008, by Sam Mendes, based on a book by Richard YatesJun 7, '09 2:28 AM
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Category:Movies
Genre: Drama
Brilhantemente roteirizado por Justin Haythe, que soube pinçar momentos essenciais de um texto profundo (e prolífico), sujeito a vários níveis de interpretação na dependência do grau de ironia com que é lida (vista) a obra.

Cônscio do viés inescapável que é analisar qualquer versão de uma obra-prima transmutada em outra essência ou suporte: ou já lemos o livros (e iremos amar o filme de qualquer forma, ou odiá-lo desde a primeira vez em que pensou na ideia) ou não os lemos (e a tela grande pode nos encher com uma verdade que sempre será ainda maior quando voltarmos os olhos para o papel em busca das origens de um texto)

Guardadas as devidas proporções, este filme é tão bom quanto o livro, mas isto não basta, porque por mais geniais que Leo e Kate sejam, não serão para todos os verdadeiros Frank & April Wheeler, personagens que conhecemos tão bem que parece-nos justo poder julgar.

Tudo bem. Por isso mesmo são papéis que terão outra chance. Já nós, dificilmente veremos genuína entrega e paixão como a do casal de protagonistas, tanto na tela quanto atrás dela, onde sabemos que a amizade de Leo & Kate foi a mola propulsora da adaptação.

Ou seja, não acredite nos jornais, e vá ver.

Só senti falta da verve desbocada de Frank na reunião na casa dos amigos, os... bem, no livro ele tira um sarro enorme com a mania deles próprios, americanos, chamar-se a si mesmos de "Os": Os Simpsons, Os Flintstones, Os Jetsons...

Leia mais em

http://renatovwbach.multiply.com/journal/item/276/276

O Píncipe Maldito, Mary Del Priore, Editora Objetiva 2007

No Brasil da segunda metade do século XIX, um jovem é educado para ser rei.


Herdeiro de uma estirpe de príncipes europeus de fama e importância capital, Dom Pedro Augusto de Saxe e Coburgo perdeu a mãe – Dona Leopoldina, irmã da Princesa Isabel – muito cedo, sendo trazido ao Brasil para ser educado como brasileiro, sob a guarda dos tios (o Conde D'Eu e sua citada esposa) e dos avós (D. Pedro II e Dona Teresa Cristina), na Corte do Rio de Janeiro.


Alguns anos depois, no entanto, nasce o tão aguardado primogênito de Isabel, chamado o “Mão Seca” por conta de um traumatismo do parto.


Pedro Augusto não seria mais rei.


Pena que faltou contar isto a ele, Príncipe Pedro Augusto. Abandonado pelos tios, que tinham agora novo brinquedo, este apegou-se mais e mais ao avô, que supostamente estimulava suas pretensões, ou pelo menos não as destruía, talvez por compaixão pelas fragilidades do neto, talvez por suas qualidades.


Em tournée pela Europa, então, titulado engenheiro, mineralogista diletante, fluente em línguas, DPA encantou a todos nas cortes que visitou, vendo sua fama saltar das páginas da sociedade. nos jornais, para as páginas políticas. Enxergavam nele um digno sucessor de Dom Pedro II, ele próprio bastante conhecido nos meios intelectuais do Velho Continente.


Ideia que ressoava também no Brasil, onde o fervor religioso de Isabel, aliado à rabugice interesseira do marido francês, tornava o casal uma péssima opção sucessória para a Monarquia brasileira. Que DPA não fosse o herdeiro direto ao Trono pouco importava, dado o apoio que recebia de conservadores e maçons, republicanos e militares.


Reza a lenda que a tia aboliria a escravatura de chofre com o intuito maior de demonstrar ao sobrinho, então novamente no exterior, o quanto ela também poderia ser amada pelo povo. Só não contava com a retirada do apoio dos fazendeiros à Monarquia, nem com a quebra da safra – que apodrecia no solo, esperando quem a colhesse, no colapso das instituições financeiras nacionais, no esgarçar do tecido social que desembocava na própria derrocada da lei e da ordem pública.


E este é o ambiente que encontram avô e neto quando retornam da Europa – de onde já nem se esperava mais que o monarca voltasse vivo – e são recebidos com festa e aclamação popular, fato que esticou um pouco a sobrevida do regime.


Manejado pelo amigo e confidente, o barão de Estrela, DPA embarca de vez em teorias conspiratórias e golpistas, nas quais reserva para si os papéis de Imperador e Primeiro-Presidente da República do Brasil, líder único possível, capaz de realizar uma transição democrática a la Luís Napoleão de França.


Ledo engano. A Revolução colhe a todos de surpresa: um general cansado de guerra (Deodoro), outro traidor por natureza (Floriano), insufladores inconsequentes (Bocayuva e Silva Jardim), idiotas pusilânimes (Ouro Preto), um pŕincipe desnecessário que se cria essencial (Pedro Augusto). Sem contar a princesa incapaz de trocar fanatismo religioso por pragmatismo de governo, o um imperador incapaz de decidir entre a casca grossa da filha inadequada ou a incipiente – mas já visível aos mais próximos – doença mental do neto. Preferiu entregar a Coroa, depois da noite (15/11) de impropérios trocados entre a filha, o neto e o genro, a primeira após o golpe. Preferiu o silêncio da dor surda à possibilidade de um combate que ele – DP II – não sabia se quereria lutar.


Salta aos olhos, da obra de Mary Del Priore (“O Príncipe Maldito”), a qualidade da pesquisa histórica, o olhar - despretencioso e caloroso a um só tempo – voltado para esta personagem injustamente esquecida (melhor não, apagada) dos anais da História do Brasil, o “timing” da literatura, que torna a obra de leitura saborosíssima, e a possibilidade de aventar um outro Brasil, repensado a partir de estudos históricos mais criteriosos que politicamente engajados.


Salta aos olhos, por exemplo, dos fatos ali expostos, a perenidade desta verdadeira mania nacional de criticar sem saber fazer, de fofocar sobre o que não conhece de perto, de confundir política com interesse pessoal, de administrar a coisa pública com desfaçatez. De maneira mais sutil, a oba de Del Priore faz pelo Segundo Reinado o que o filme de Carla Camuratti (“Carlota Joaquina”, Brasil, 1995) fez pelo Primeiro. O DP II de Del Priore, a parte suas contribuições inalienáveis ao desenvolvimento da província, é permissivo e alienado, como se o Brasil pudesse ser (tão mal) administrado quanto suas fazendas e terras.


Vivendo como um dândi enquanto sua conta bancária o permitiu, dilacerado pelas perdas sucessivas da avó, do avô e do Trono (não necessariamente nesta ordem), passado para trás pelo Conde D'Eu (que impediria a Pedro e ao irmão terem acesso a seus dotes imperiais por longo tempo), DPA não seria páreo para Charcot, Freud ou Breuer – luminares que tentaram ajudá-lo, sem sucesso, no combate à psicose maníaco-depressiva que o afetou de maneira progressiva e irrecuperável.


Quando o irmão mais novo assistiu à mais um golpe de estado brasileiro de dentro de um navio atracado em Salvador, de onde foi mandado célere de volta a Europa, Pedro Augusto comentou que o havia prevenido sobre “aquela gente”: “Vão usá-lo e depois dispor de você como um saco de batatas, inútil”.


Morreu louco, após passar boa parte dos 66 anos de vida (viveu mais que o avô!) de sanatório em sanatório, buscando reeducar-se para ser uma pessoa comum, para sempre conhecido como aquele que vai (ou iria) ser Rei.






sexta-feira, 1 de maio de 2009

Die Dauerhaftigkeit 6

Die Dauerhaftigkeit


Category:Movies
Genre: Drama
Último trabalho completado pelo diretor, roteirista e produtor Anthony Minghella, que faleceu em 2008 (mas foi recentemente indicado ao Oscar 2009 pela co-produção de "The Reader"), este ""Breaking & Entering" conta com o talento do trio de atores principais para não deixar a peteca cair ao longo de sua narrativa densa e fútil.

Filmado com maestria econômica, "B&E" seria apenas mais um daqueles "filhotes de Closer" que careceriam de maior interesse, não fosse o roteiro bem engendrado por Minghella, que possibilita a Jude Law, Robin Wright Penn e Juliette Binoche transbordarem humanidade sem qualquer afetação. Mas - como "Closer" - "B&E" representa de maneira fidedigna a alienação, a pobreza e a sinuca em que estamos todos nós, vítimas e espectadores de um início de século que vem desmontado convicções, ideais e até mesmo compaixões. Frio, desapaixonado e profundamente triste, o autor/diretor move seus personagens em busca de uma redenção que até se anuncia, tímida, no final, mas não convence ninguém.

Leia mais em:

http://www.breakingandentering-movie.com/

http://www.imdb.com/title/tt0443456/



Category:Other
Imperdível para quem gosta de... vampiros, vampiros e mais vampiros, a (nem tão) nova série da HBO tem tudo para se transformar em um clássico sobre o tema.

Combinando clichês de forma um tanto caótica, TB (re)apresenta o drama da mocinha ingênua pero no mucho (apesar de virgem! - isto mesmo, v-i-r-g-e-m!) - a tal Sookie, interpretada por Anna Paquin - apaixonada pelo vampirão bonito e sedutor (Bill, papel de Stephen Moyer) que - vá lá - no fundo, no fundo pode - e apenas pode - ser bonzinho. Some-se à mistura o sangue sintético inventado pelos japoneses (o tal "trueblood") que possibilitou à vampirada toda "sair do armário" e pleitear um lugar ao sol - epa! ao sol não - à lua no mesmíssimo planetinha onde vivemos nós, humanos... e personagens secundários tão ricos quanto a negrinha complexada Tara (em sua própria definição), o esquisitíssimo patrão das meninas (o dono de boteco Sam), o tarado do irmão da protagonista (Jason), além de vampiros aos montes, é claro!

Baseada na sérioe de livros (de sucesso) "Sookie Stackhouse (Southern Vampire) Series", da autora Charlaine Harris, a série da HBO já conquistou vários prêmios, inclusive o Golden Globe 2009 para Anna Paquin, que é o coração da série (vampirada, recolham suas presas). É sua interpretação magistral da interiorana telepata Sookie que dá gosto, digamos assim, ao pacote todo.

Leia mais em:

http://www.hbo.com/trueblood/

http://www.imdb.com/name/nm0001593/



Category:Movies
Genre: Drama
Assisti em DVD outro dia - recebi de presente de uma amiga secreta, no Natal passado - ao excelente filme do diretor - premiado com vários Emmy - Joseph Sargent, baseado na história real do relacionamento entre o Prof. Dr. Blalock e seu assistente Vivien Thomas (um negro não-graduado que foi seu braço direito por toda a vida).

Grande pioneiro da cirurgia cardíaca, Dr. Blalock inscreveu seu nome na galeria dos grande médicos do século XX por ser o primeiro a realizar uma cirurgia dita "cardíaca" realizada em anima nobile (ser humano), no Johns Hopkins Hospital, em 29 de novembro de 1944. Tratava-se, na verdade, de um bypass entre as artérias subclávia e pulmonar, procedimento que, pela proximidade com o coração, tornava-se de altíssimo risco dadas as condições da época, mas representou a primeira chance objetiva de tratamento para bebês com tetralogia de Fallot (forma complexa de cardiopatia congênita cianótica)

Focado mais no gênio de seu assistente que na capacidade indiscutível do Dr. Blalock, surgido na esteira do reconhecimento tardio (porém merecido) da contribuição do "leigo" (no sentido estrito de "pessoa que não teve formação científica formal) Vivien Thomas, o filme é um retrato sensível de uma história real e arrebatadora.

Sugerindo que o conhecimento científico nasce da observação atenta e rigorosa do mundo que nos cerca (mais do que do estudo rígido da literatura especializada), retrato de uma era em que o improviso e as grandes revoluções pessoais ainda tinham lugar no processo científico, documento imprescindível para médicos, estudantes e interessados, o filme é justo com ambos os protagonistas e se torna empolgante com as armas da simplicidade.

Leia mais em:

http://www.hbo.com/films/stlm

http://www.medicalarchives.jhmi.edu/page1.htm

E que fique aqui registrada minha homenagem aos "bedéis" das faculdades de medicina, sem os quais nenhum de nós médicos teria sido capaz de aprende as noções mais básicas de anatomia, fisiologia e patologia.
ReviewReviewReview"Ghost Whisperer", série de TV, 4a. temporadaJan 29, '09 11:29 PM
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Category:Other
Tudo bem, eu confesso: poderia assistir coisa melhor.

Mesmo dentro da combalida programação da TV a cabo brasileira (onde agora os filmes "pulam" de canal, ou seja, continuam sendo repetidos ad nauseum, só que em canais diferentes ao longo da semana), eu poderia achar coisa melhor.

É que tem a Jennifer Love Hewitt (que queria ser a Audrey) - cada vez mais linda; entretenimento escapista ao alcance da mão e um certo humor involuntário...Mas eu sei, nem deveria criticar o que... Faltam-me palavras até para descrever.

Mas vamos lá. Para quem não conhece, a série de TV (exibida aqui pela SONY) é um pastiche inenarrável de nova era, espiritismo chinfrim (uma espécie de pseudo-kardecismo de boutique, se é que você me entende: fantasmas que falam com a moça, têm como missão básica mandar recadinhos para conhecidos ou familiares que ainda estão vivos e depois, bem... depois lhes resta "caminhar para a luz") e lições moralistas do mais rasteiro senso comum.

Por isso (quase) não assisto mais - na verdade parei de acompanhar ainda na primeira temporada. Mas outro dia assisti um capítulo bem bobinho e bacana (uma história de fantasmas em um navio) e resolvi dar mais uma chance.

Resultado? Tá cada vez pior.

ReviewReviewReviewReview"O Conto do Amor", Companhia das Letras, 2008Jan 26, '09 3:13 PM
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Category:Books
Genre: Mystery & Thrillers
Author:Contardo Calligaris
“O Conto do Amor”, primeiro romance do psicanalista, escritor e colunista da Folha Contardo Calligaris – já devidamente incensado pela crítica paulista – é livro para se ler em um fôlego só, à maneira de bestsellers americanos.

O paralelismo entre a obra e “O Código Da Vinci” é evidente e por isso mesmo inevitável: ambos escondem o ritmo de suspense sob toneladas de informação erudita. Ambos situam sua ação em uma Itália contemporânea onde os fantasmas do passado distante (ou mesmo recente) aparecem a cada dobrar de esquina, na forma de quadros, igrejas, estátuas, praças e documentos. Ambos elegem um casal – que n'O Conto não demora a unir forças – como protagonistas; ambos mexem com mitos e arquétipos. Mas as semelhança – já não poucas – param por aí.

Algo autobiográfico – como em geral romances de estreia costumam ser - “O Conto do Amor” imprime-se com vagar na mente do leitor, deixando entrever, aqui e ali, as marcas de um entendimento mais profundo da mente humana por parte do narrador. A trama que emerge com simplicidade e objetividade, bem urdida e realizada, beira a perfeição no final inteligente, crível e provocador.

(Alberto Moravia – outro psicanalista! Outro italiano! - disse em um dos seus contos que o intelectual que abre mão dos seus princípios e/ou de sua integridade moral em troca de uma descoberta científica/artística/literária “vende a alma ao diabo” e costuma pagar as consequências do seu ato com a própria infelicidade. Calligaris não chega a tanto, mas mete a mão em cumbuca ao dessacralizar o tabu que ocupa posição central no desfecho de sua trama. Excelente motivo para abandonar – ainda que temporariamente - a crônica e o ensaio clínico e escrever um romance, não?)
Category:Movies
Genre: Science Fiction & Fantasy
Maravilha de época esta nossa que permite a realização dos mais largos vôos da imaginação humana no cinema... Pena que haja tão poucos criadores de fôlego e espírito (indômitos!) como Del Toro - capaz de realizar obras-primas bissextas porém inesquecíveis como a sangrenta história de Ofélia.

Tendo como pano de fundo a Espanha de Franco, na década de 40, a película - concebida, roteirizada e dirigida por Del Toro - mistura cenas de forte impacto poético e existencial. Obra de mistério e suspense tanto quanto de fantasia e ficção, retrato de época e lugar específicos soberbamente entrelaçados com a mais pura magia, "El Laberinto" é um clássico perfeito da primeira à última tomada. Dá medo, mais pelo que sugere ("as primeira versões eram ainda mais arrepiantes", diria o Sandman) do que por aquilo que mostra.

Pena que levei tanto tempo para assisti-lo, este filme inteligente e genial, que mereceu todos os prêmios que levou em sua carreira comercial.
ReviewReviewReviewReviewReview"Live in Paris"Nov 4, '08 11:26 AM
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Category:Music
Genre: R&B
Artist:Seal
Não trocaria uma só canção do disco ao vivo de Seal, “Live in Paris” (2005), coletânea do que realmente é essencial em sua obra.

Cobrindo desde a seminal “Killer” (mega-sucesso de sua estréia em disco, como crooner do DJ Adamski, em 1991) até clássicos como “Crazy”, “Kiss from a rose”e “Dreaming in metaphors”, sem contar os sucessos de discos mais recentes, a coletânea parece ter saído diretamente da minha cachola: é o meu “best of” do cara. Depois de ouvi-lo, nem precisei gravar aquele CDzinho esperto com as melhores para ouvir no carro...

Dono de uma musicalidade quase renascentista, Seal é um dos nomes mais importantes da música pop dos anos 90-2000. Ainda assim, seu sucesso não só é merecido como muito menor do que sua qualidade poderia fazer supor. Em uma época de sucessos instantâneos e descartáveis, é este disco que comprova a consistência de uma obra que já se faz imortal. Ouça sempre.



ReviewReviewThe X-Files - I want to believe 2008Nov 2, '08 10:25 AM
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Category:Movies
Genre: Action & Adventure
Fringe é herdeira direta dos X-Files
Se fosse um capítulo de início de temporada eu já iria achar - no mínimo – estranho. Como sequel de 9 temporadas e um longa-metragem, temo que “extravagante” seja pouco para definir o novo (segundo) filme da franquia “Arquivo X”.

Não por acaso venho acompanhando – da maneira que dá, uma vez que a série ainda não estreou no Brasil – os mistérios de “Fringe”, nova empreitada do “mago” J. J. Abrahams, criador de “Lost”. Hoje por exemplo vi o capítulo 6, aquele da cabeça que explode na lanchonete. E logo a seguir assisti aos X-Files, também repleto de cabeças cortadas. Talvez as comparações sejam inevitáveis.

Conduzido a partir de um fiapo de história (Mulder é chamado para ajudar a entender o papel de um ex-padre pedófilo e “psychic” na busca por uma agente do FBI que desapareceu – o novo “X Files” tem tudo para decepcionar os velhos fãs. Trama chinfrim, sem grandes enigmas – no filão, “Fringe” é menos crível mas mais divertido – ausência total e absoluta de extraterrestres e ou conspirações governamentais. Há sim um beijo - talvez dois, se considerarmos um selinho de mau-grado – e muito, mas não muito mais. Conheceremos o novo escritório de Mulder (dããã!) e passaremos longos minutos confundindo a Dra. Scully com algum personagem do “Gray's Anatomy” em suas andanças pelo Our Lady of Sorrow Hospital. Reveremos o Skinner, na pontinha mais fraca da história do cinema. E ainda teremos que rir para não chorar com a pouco discreta crítica (crítica) ao governo W. Enfim: é pouco.

Lembro-me da sensação vertiginosa de liberdade criativa que a série injetou na televisão em seu início e não consigo gostar do que vejo agora. Chris Carter ousou – ou ab-usou – da quebra de paradigmas na (re)construção dos personagens a tal ponto que eles viraram caricatura de si mesmos, presos a estereótipos que a prórpia série fazia questão de elipsar. Lembro-me da X-mania e na qualidade de antigo “excer” digo, de todo coração, que eu gostaria de acreditar. Mas não dá.

Fica a sensação de que os tempos são outros, a mesma que senti ao rever recentemente o primeiro episódio da série - mas agora, de origem diversa. Antes de assitir ao novo filme, no confronto “X” versus “Fringe”, destacava-se o primeiro - pelos diálogos espertos e bem construídos, pela tranqüilidade com que a edição dava tempo ao desenvolvimento dos personagens, pela profundidade com que abordava cada tema em particular. Mulder e Scully marcaram época porque personalizaram o confronto entre ceticismo e fé, em suas tentativas vãs de separar o que simplesmente não é crível daquilo que é real mas não tem explicação. Ao afirmar que “a verdade está lá fora”, a série deixava suspenso qualquer compromisso com esta mesma verdade, abrindo caminho para a difusão (pelo menos midiática) de conhecimentos outrora considerados periféricos, como extraterrestres, ovnis, monstros diversos e paranormalidades de toda sorte. Somente depois do advento dos X-Files tais temas passaram a ocupar não só o horário nobre da televisão aberta como também a programação de sóbrios canais científicos como NatGeo, THC e Discovery.

E que, não por acaso, voltam à tona em Fringe. Editada com a mão pesada característica da geração videoclipe, Fringe é rápida e certeira, porém recheada de clichês que, de toleráveis na década passada, quando os X Files surgiram, passaram a soar apelativos e indigentes hoje. Apesar da fragilidade do mote inicial, porém, a série começa a se firmar em sua mistura sui generis de ação e mistério. Contribui e muito para isso a excelente quadra de atores protagonistas, com os excelentes Joshua Jackson e Anna Torv (belíssima!) a ladear os fantásticos Lance Reddick (Broyles) e John Noble, sensacional na pele do louco Dr. Bishop.

Algo que se dá também no novo Arquivo X, onde Mulder e Scully são defendidos com galhardia pelos já veteranos David Duchovny e Gillian Anderson. Se suas rugas emprestam credibilidade aos personagens, o mesmo não se pode dizer da história, que envelheceu mal e mais parece uma daquelas (terríveis!) continuações caça-níquel que os estúdios vendem para outro roteirista ou diretor por puro desinteresse do autor original. Apesar de escrita pelo próprio Chris Carter. Mas que venha o próximo, desta feita com orçamento milionário, espaçonaves alienígenas e muita confusão. A melhor série de TV dos anos 90 não pode acabar assim.

E que bom que a “fringe science” ocupa de novo o horário nobre da televisão americana, especialmente se for para contribuir com indagações éticas imprescindíveis para este início de século. Se assim o fizer, poderá, talvez, um dia, ser conhecida como “o X-Files dos anos 2000”.
Category:Movies
Genre: Drama
Verdadeiro laboratório de suas criações posteriores, "Louca Escapada" / "The Sugarland Express" é o tipo de filme que se você começa a ver, não pára mais. Ingenuidades e inverossimilhanças do roteiro à parte, Spielberg mostra-se no comando absoluto do negócio, desde a exposição de nuances psicológicas relevantes (a frustração do policial sequestrado ao notar que seu nome não estava sendo veiculado no rádio é sutil mas incisiva, por exemplo) até o exagero do circo - montado por ambos, mídia e polícia - em que se transforma a perseguição aos fugitivos. O conteúdo de crítica social - meio maniqueista porque setentista, se é que você me entende - vem meio a tiracolo do espetáculo - assim como a estetização da violência, levada a cabo duas décadas depois por Tarantino em "Pulp Fiction" - já está presente neste que é um dos primeiros trabalhos de Spielberg.
Bom, mas meio exagerado e caricato demais - talvez por culpa do histrionismo de Goldie Hawn.
Category:Movies
Genre: Cult
"Típica produção HBO 'puxa' para a TV um certo clima independente", clamam os jornais em uníssono, como se os textos saissem da mesma banguela.

Não dei muito crédito, não entendi se estavam elogiando ou muito pelo contrário, gostei do "Madame Satã" do Ainouz - no qual participei fazendo barulho, mas esta é outra história - mas acabei assistindo a Alice na reprise, quinta-feira, meio sem querer.

E gostei muitíssimo. "Depois de um difícil começo", parece cantar Caetano em nosso inconsciente ao acompanharmos a sucessão de coincidências e desencontros que levam a protagonista da pequena Palmas à caótica Sampa de maneira improvável mas muito bem explicadinha.

Coitada! Dá para sentir na pele a insatisfação crescente com a vida que a espera na volta para casa e aquela outra, brevemente entrevista numa noitada. Ou melhor, numa ba-la-da, que estamos em terra onde não se usa, para isso, outra palavra.

Torci junto para que o namoradão cornão lá do interior demonstrasse logo o camarada grosso e inseguro que é, temi pela reação da tia quando Alice chega na loja, na manhã seguinte - ela poderia não ser tão gente boa naquele momento. E por fim achei que acabou cedo, que tunha (e tem!) mais história para desfiar.

Uma beleza! E a menina que faz a Alice (Andrea Horta), que delícia de atriz!
ReviewReviewReviewReview"O Vencedor Está Só"Sep 10, '08 12:04 PM
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Category:Books
Genre: Mystery & Thrillers
Author:Paulo Coelho
E não é que Paulo Coelho chegou mais perto de acertar desta vez? – pergunto sem me preocupar com o sarcasmo com que meus leitores e o respeitável público costumam brindar qualquer texto elogioso ao maior escritor brasileiro vivo. E eu disse o maior, parafraseando meu último texto sobre ele, não o melhor.

Pelo menos assim a frase acima afasta de cara aqueles que já odeiam o escritor de antemão: depois da googlada você veio parar aqui sabendo o que encontrar.

Ou quase, pois antes que me venham com lições de falso moralismo intelectualizado, direi logo que sou louco pela obra de Tchekhov, fã absoluto de Fitzgerald, Poe e Auster, leitor voraz de Lobato, Montello, Clarice, Sergio Porto e Mirisola, a mesma criança que amará Tolkien, Lewis e Carrol por toda sua vida. Não me mandem “ler coisa melhor”, como da última vez. Eu sempre li porque gosto, não em busca de algo sem forma definida chamado “cultura”. Por isso amo também King, Lovecraft, Gaiman e Eisner. Pessoa e Coltrane com a mesma efusão, mas aí já digressiono até a música, nem tão longe do assunto, mas já na hora de parar.

Vamos ao livro. A despeito de sua escrita ter melhorado, PC persiste em alguns “cacoetes” antigos, como o tom quase professoral com que enumera, disseca, exxxplicita dados, fatos e boatos a respeito da vida dos poderosos do planeta (a tal “Superclasse”, citada por ele em todas as suas – inúmeras – entrevistas nas últimas semanas), a dificuldade em diferenciar o tom e o discurso de alguns dos personagens, a perda de ritmo e andamento ao misturar os dois problemas acima.

Desta escrita por vezes confusa, no entanto, brota um ser humano, certo e errado a um só tempo, tosco, erudito, carioca, cosmopolita, bruto e delicado, mau e bom, encerrando em si o germe da inquietude – cada vez mais cínico – e a semente de sonhos desfeitos (cada vez menos críveis).

Mas, ‘pera lá, sonhos desfeitos? E a tal “Lenda Pessoal”? E o Mago, o guru, cadê?

Pois é, “o marido da Cristina” - citado com desenvoltura pela senhoras do Leblon - cresceu e apareceu. Abriu os olhos e os ouvidos e deu, mais uma vez, sua cara à tapa, expondo-se muito mais pelas opiniões que pela forma. Até porque o formato não é novo, e como já dito, não foi executado à perfeição. Até porque PC é um escritor brasileiro – enquanto os americanos lutam para se livrar das regras do “essay” pelo resto da vida, a gente nunca chega a aprender. Até porque não tem onde aprender, exceto na tentativa e erro costumeira, um livro atrás do outro, que para isso que eles foram feitos (e que me desculpe o Carpinejar, mas estou velho para voltar à Universidade)

Travestido de thriller, por exemplo, o romance demora a engrenar no aspecto “cinematográfico”, que é o que poderíamos esperar de um best seller. As idas e vindas do roteiro são um pouco confusas, e a opinião onipresente do autor mal ajambrada na forma de pensamentos das personagens sempre a invadir o raciocínio sem muita diferenciação. De um determinado ponto em diante, porém, a coisa deslancha e já sabemos quem é quem, antecipamos movimentos com alguma previsibilidade, torcemos para que o inevitável não aconteça. Mergulhamos fundo no universo - malévolo porque amoral - do protagonista e saímos da viagem maltratados, nocauteados porque, afinal, a verdade que se espreme de tanta informação tem gosto amargo.

O desfecho é exatamente o que eu imaginei, mas nem por isso pode ser considerado previsível. Pelo contrário! É a grandiosidade de construção da cena final que garante ao romance qualidade, closure, sentido.

Como retrato de uma época – pretensão tratada como objetivo pelo autor logo no prefácio, onde diz “Quando resolvi fotografar minha época, escrevi este livro” – o livro atinge seu objetivo ao mostrar um painel vasto e bem fundamentado da atividade humana nas altas esferas. Como veículo para exposição de idéias, o romance se sustenta por ofertar um único ponto de vista, mal-distribuído entre as personagens, mas nem por isso menos relevante: o (ponto de vista) do autor, espectador privilegiado da Superclasse que (ao menos aparentemente), não perdeu o olho crítico que o fez eleger como musa, na juventude, sociedade mais “alternativa”. Como peça de ficção, o acerto na descrição do protagonista e seus procedimentos faz esquecer facilmente a fragilidade de composição das outras personagens, que – vistas com olhos mais benevolentes – poderia ser tida até como “intencional”. Em sentido exclusivamente literatos, PC se afasta a passos largos da literatura mística, quase de auto-ajuda, que o revelou, aproximando-se de maneira oblíqua de certa linhagem semi-confessional da moderna literatura, comum neste início de século. Mas o faz quase sem querer, porque não adestrou ainda a verve a ponto de escrever “somente um thriller”, ou mais uma “história de amor”.

Talvez por isso mesmo continue a ser (muito) lido, pela saudade que todos temos de uma Voz. A dele continua a falar.

ReviewReviewReviewReviewReview"Histórias Fantásticas"Jul 9, '08 9:43 PM
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Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Adolfo Bioy Casares
Vem de longe meu público apreço pela obra de dois grandes argentinos, Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares, tanto que a idéia para meu primeiro romance – ainda sem gestação – partiu de uma pré-tensa homenagem aos dois, que se reuniam quase diuturnamente para conversar, conviver e discutir – especialmente inventar histórias.

E é um verdadeiro mar de histórias este pequeno livro de ABC recém lançado pela COSACNAIFY, as assim apropriadamente denominadas “Histórias Fantásticas”, por mais que sejam apenas quatorze, todas com um ponto em comum: sempre partindo de um pé na realidade, os contos a distorcem de maneiras tão diversas e assustadoras que se rompe a fronteira entre o sonho e a loucura. Como em Edgar Allan Poe, de quem ambos (JLB e ABC) eram fãs fervorosos.

Trata-se da tradução de uma primorosa antologia editada em 1972, que cobre o vasto período entre 1948 e 1969 e demonstra um autor único em seu estilo, apesar de voluntariamente inserido em seu contexto e herança históricos, que por entender a filosofia por detrás da tecnologia, ousou legar-nos belos exemplares de literatura de ficção dita científica, sem tornar-se datado. O que o colocaria ao lado de grandes do gênero como Asimov, Bradbury e Clarke – sem contar Conrad, outra influência confessa, evidente nos temas tropicais.

Mas acontece que não é “ficção científica”. Casares transita entre dimensões paralelas, máquinas que capturam a alma, suspensão temporal, confrontos com o diabo e tragédias amorosas bizarras sempre em busca do homem perdido por entre as máquinas e os monstros. Por isso se torna mais palatável, por sua humanidade que floresce em texto limpo e erudito ao mesmo tempo, menos hermético, porém não menos rico que o de JLB.

Eu sempre recomendo “A Invenção de Morel” para aqueles que se iniciam no universo muito próprio dos dois argentinos. É o romance impactante que se espera do grande escritor, amortece a vítima e a domina, conquistando o respeito. Depois “O Aleph”, do Borges, pela amostra magistral de erudição, cultura, conhecimento histórico e gramatical. Agora passarei a recomendar este também, por ser um painel mais que evidente de todo o talento de Bioy Casares.
ReviewReviewReviewReview"Serpico" by Sidney Lumet, 1973Jul 6, '08 3:48 AM
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Category:Movies
Genre: Classics
Muitas vezes classificado como um filme policial, "Serpico" é pouco mais ou menos que isso. Interessantíssimo retrato de um período conturbado da história recente de Nova Iorque, onde a "porra-louquice" e a luta pelas liberdades civis caminhava delegacia adentro, criando novos hábitos e quase uma nova força - afinal, "paisanos" como Frank Serpico abandonavam o uniforme antes mesmo de promovidos a investigadores, ficando meio acéfalos e à deriva em meio a imenso "mar" de corrupção. Tempos que não voltam mais, em que interrogatório era na base do pescoção e os hoje venerados NYcops faziam caixa-dois para complementar o salário. Tempos em que alguém poderia ser tão honesto, mas tão honesto, que se torna mais que um personagem, verdadeiro arquétipo.
É, o filme é maniqueísta, sim, mas bate na veia quando nos diz que "não pode haver corrupção sem conhecimento e envolvimento de instâncias superiores" e que "comitês independentes que investiguem a corrupção entre policiais tornaram mais fácil a assimilação de jovens policiais pela corporação sem que os mesmos sejam constrangidos desde o vero primeiro dia a compactuar com ela". Ou algo que o valha, estou citando de cor.
Grande programa para uma madrugada de sábado, só não ganha 5 estrelinhas por um certo bom-mocismo burguês.
ReviewReviewReviewReviewReview"CRACK-UP" Jun 18, '08 6:42 PM
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Category:Books
Genre: Biographies & Memoirs
Author:Fitzgerald, edited by Wilson 1942
Elegante seqüência de desabafos históricos. No sentido estrito são aqueles que passaram a fazer parte da história da literatura, e no sentido lato, aqueles que discorrem sobre largos períodos de tempo.
"Há sempre aqueles para quem toda confissão é desprezível.", diz Scott, antes de apontar sua metralhadora de mágoas para o céu e a terra. Não importa, ele precisa é do suco de seu cérebro esmagado de tanto pensar até extrair algum sentido.E que suco!

Para Scott o sentido foi viver o suficiente para pagar as contas.
Belo sonho, não?
Review"The Secret / O Segredo", Ediouro, 2007May 11, '08 8:17 PM
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Category:Books
Genre: Business & Investing
Author:Rhonda Byrne
Um livro, pra vender, tem que parecer.

Um livro, pra parecer bonito, tem que ser bonito. Inteligente nos temas e caligrafias, ultra-respeitoso com os colaboradores, “dedicado a você”, antecedido por uma epígrafe pós-moderna (mas escrita há 5000 anos), com trajetória personalista mas sem muita profundidade, por favor.

Um livro, pra (a)parecer tem que vender bonito. Coisa que “The Secret / O Segredo” fez.

A incrível trajetória do livro, feito para vender por gente que sabe vender, é ainda mais sensacional do que a série de entrevistas e depoimentos de personalidades poderia prever. Leia, veja (o filme), assine os “papiros secretos” (orações de Rhonda “dedicadas”... hummm... “a você”) e depois assista a Santa Missa em Medjugorje. Não? Oops, me enganei.

Bem, se não é seita, o pensamento é uniforme e rasteiro, uma espécie de primo pobre do roteiro de “Forrest Gump” – só que para idiotas.

Temos Rhonda, a xamã, como personagem principal, “recebendo” de graça - afinal, o “como não importa” - “os segredos e as leis do universo”, em um dia de primavera. Logo depois, “sua vida foi transformada, e ela começou a por em prática tudo o que ela aprendeu”. Resolveu fazer um filme, afinal, era escritora e produtora da tevê australiana. Quando estava para começar a rodá-lo “como por mágica, as pessoas perfeitas apareceram para ajudar”.

Temos apóstolos, não meros coadjuvantes. E que apóstolos: um “Filósofo, Escritor e Consultor Pessoal”, um “Doutor em Ciência Metafísica”, um "Especialista na Arte de Ganhar Dinheiro”, um “Filósofo, Quiroprático, Terapeuta Natural e Especialista em Transformação Pessoal”, e por aí vai. Gente bem sucedida, rica (condição sine qua non para figurar na lista) e de religião indefinida, voltada para o sincretismo da Nova Era. Me admira muito o pouco que se fala em Norman Vincent Peale.

O Evangelho? Seu pensamento é uma força, e esta força materializará seus sonhos (ao contrário dos anúncios de nutricionista, não me pergunte como) desde que “vibre” na “freqüência” certa. “Pensamentos viram coisas”, diz o livro, porque a “lei da atração é a de que o semelhante atrai o semelhante”. Como um Roberto Carlos da semântica, o azul a ser evitado é o “não”, que o universo entende como “sim” (sic). Logo, se digo que “não quero pegar um resfriado”, o universo” “entende” que eu não só QUERO pegar um resfriado, mas até outras doenças. Está lá, na página 15 da edição nacional.

Os nobres colaboradores chegam a dizer que por mais que você não acredite no “segredo”, ele existe porque até você, “incréu”, se beneficia dele. Incontrariáveis, esses “secretos”.

Um artigo, para convencer, deve abordar todos os ângulos de uma questão. Juro que era meu intento. Mas desisti. Acho que falar deste livro, ou melhor, contra este livro, é dever moral do homem inteligente, que se sentirá ultrajado com o desfilar de sandices absurdas vendida em nome da fé dos incautos. Mas acho que o livro não merece tanto. Melhor que seja esquecido, como triste retrato de uma época inculta.

* * *

Ou que fique a moral da história:

“Pense positivo”, falou a pilha, com dor no negativo.

* * *

Para saber mais (ou conferir as bobagens in loco):

http://www.thesecret.tv/index.html

http://www.thesecret.tv/behind-the-secret-making-of.html

http://www.dominiodavida.blog.br/mitos-e-mentiras-da-lei-da-atracao-ou-rhonda-pulou-o-como/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rhonda_Byrne

http://www.time.com/time/specials/2007/time100/article/0,28804,1595326_1615737_1615871,00.html

http://artedeler.blogspot.com/2007/08/o-segredo-rhonda-byrne.html

ReviewReviewReviewReviewReview"Operários da Bola", Editora UEPG, 2007May 3, '08 3:39 PM
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Category:Books
Genre: Nonfiction
Author:Jeferson Augusto e Bruno Ferreira;
Despretencioso e acurado, é o relato de uma temporada difícil e trabalhosa para o time de Vila Oficinas. Carlos Alberto Dias (ex-seleção) e Ricardo Pinto (ex-Fluminense e Atlético Paranaense) misturam-se a anônimos anti-heróis na busca da reabilitação - não só de um time, mas de um clube.
ReviewReviewReviewReviewReview"The Departed", Martin Scorsese, 2006Mar 29, '08 4:11 PM
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Category:Movies
Genre: Drama
A grande questão do filme não é o retorno do mestre à sua melhor forma, ou as grandes interpretações de Damon (contido), Nicholson (surpreendentemente contido, talvez por isso mesmo convincente) e DiCaprio (escrachadamente vibrante), mas a idéia de "contaminação pelo meio" - ou não.

O tira "bonzinho" viaja ao inferno infiltrado no ambiente cruel da máfia assassina, quase perde a sanidade quando os limites morais se tornam esgarçados, mas termina o filme íntegro, dono da "identidade" que busca nos arquivos da Polícia Estadual. Já o afilhado do gangster, infiltrado entre os "home", encara tudo com um cinismo patológico, que imagina todos - mesmo os nobres - como iguais a si em podridão, e termina o filme mostrando que é um embotado social.

Ambos não tem futuro, o espectador sabe, Scorsese sabe, resta mostrar porque somente um se transformará. O outro é raso como o mal, escorregadio como pau-de-sebo. Nada grudará neste, nem "o bem".
ReviewReviewReviewReview"La Dilettante", França, 1999Jan 31, '08 1:05 AM
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Category:Movies
Genre: Comedy
Catherine Frot imprime marcas hepburnianas à sua quase matrona que retorna a Paris quando de um segundo divórcio, em busca de proximidade com os filhos recém-adultos, novas oportunidades e - por que não? - um pouco de aventura.
Espécie de Amelie Poulain de meia idade, sua Pierrette Dumortier leva seu savoi-faire e joie de vivre a cada fotograma, e por mais que o filme não empolgue - pelo menos até a cena de tribunal, onde ironicamente não é Catherine quem mais brilha - pelo menos encanta, sem apelar para niilismos toscos ou ingenuidades de aluguel.
Ao contar sua história fantástica (e pouco crível!) de uma jovem senhora de 40 anos que paira com charme e força de vontade sobre as vicissitudes da vida, o diretor Pascal Thomas faz um filme à moda antiga, que certamente agradará aos românticos e sonhadores.
ReviewReviewReviewReviewReview"Jogo Subterrâneo", Brasil, 2005Jan 31, '08 12:42 AM
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Category:Movies
Genre: Drama
Um filme que certamente merecia mais sucesso do que teve é este "subway movie" brasileiro, dirigido por Roberto Gervita e inspirado em um conto do mestre Julio Cortazar.
Nele, além dos labirintos exteriores que o jogo de Martin impõem ao próprio e ao espectador, há aquele mergulho na alma que o cinema de resultados, de forte tendência hollywoodiana, tem parecido sepultar.
E é bem lá, na alma, que fica depois reverberando esta agridoce história, tão bem resumida no semblante a um só tempo doce, sofrido e sensual da fantástica 'Ana' de Maria Luiza Mendonça.

Com as participações das belas Daniela Escobar, Julia Lemmertz e Maitê Proença.

Visite:
http://www.filmes.net/jogosubterraneo/
ReviewReviewReviewReviewReviewAcústico MTVJan 25, '08 3:25 PM
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Category:Music
Genre: Rock
Artist:Lobão
"Clássico", disse a Rolling Stone.

"Clássico instantâneo", digo eu.

À parte a euforia de muitos pelas versões demolidoras das músicas antigas, o show/CD/DVD se sustenta mesmo é pelo ímpeto pungente de melodias mais recentes, verdadeiras pérolas do velho Lobo "escondidas"da mídia porque lançadas durante seu período de afastamento das grandes gravadoras - naquele que talvez fosse o vôo solo mais arriscado que um artista consagrado já ousou no Brasil.

São músicas que encontram neste projeto o suporte extraordinário que sempre mereceram para também se tornarem hits.

E se digo que são estas que "sustentam"o disco não é por demérito da seqüência de velhos sucessos, entoados ora com paixão, ora com fina ironia - e todos já parte do cancioneiro brasileiro do século vinte; mas sim pela riqueza melódica impressionante de músicas menos conhecidas como "O Mistério", "Vou Te Levar", "A Queda" e "A Vida É Doce", entre outras, que deixam esta obra de certa forma retrospectiva em algo com cheiro de novo e gosto de quero mais.

"Acho que o mistério me escapa", canta João, mostrando que a integridade artística é possível mesmo em meio a (aparentes) contradições. Podendo levar até a um Grammy Latino.
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